Sobre

Currículo

Quem é o fotógrafo Kim-Ir-Sen.

Kim-Ir-Sen Pires Leal é de raiz. Goiano de boa cepa, cineasta e fotógrafo documentarista de sólida formação clássica. Humanista e aventureiro, ganhou musculatura como repórter e fotógrafo em alguns dos mais conceituados jornais e revistas do país e se expandiu nas agências independentes de fotografia, tendo sido um dos responsáveis pela AGIL Fotojornalismo de Brasília. Pós-graduado em fotografia e etnologia, somou o conhecimento acadêmico à sua experiência como documentarista do CNPq e à sua intuição natural para ir mais fundo na documentação de fenômenos sociais complexos, desde o cotidiano de pequenas cidades – penso na encantadora Olhos d’Água, onde fez um dos seus primeiros trabalhos de documentação que lhe conferiu, por sinal, o seu primeiro prêmio em fotografia – aos salões do poder federal, à imensidão da floresta, à poeira das terras do Oeste e ao delicado registro de povos indígenas de recente contato – com ênfase no trabalho meticuloso junto aos Avá-Canoeiro de Goiás. Andou por muitas terras, mas nunca saiu de fato de Goiás, já que sempre levou a força do pequi dentro de si. Em cinquenta anos de trabalho, Kim-Ir-Sen, merecidamente reconhecido como um dos mais importantes fotógrafos documentaristas do país, produziu, catalogou e arquivou cerca de 500 mil imagens em cor e preto-e-branco, muitas delas hoje consideradas documentos históricos de valor incalculável pela importância dos momentos e dos fatos registrados, outras tantas belos poemas visuais, frutos do olhar sensível e da estética primorosa de quem é merecidamente reconhecido como um dos mais importantes fotógrafos documentaristas do país. É desse acervo da sai de “Kim-Ir-Sen, Brasil em Imagens, 50 anos”, uma seleção de imagens que definem mais do que descrevem e, acima de tudo, interpretam e desvelam o que é ser genuinamente goiano. A identidade goiana se derrama por imagens de pequenas e grandes cidades, em muita cultura material, festas, mas, sobretudo, se revela nas pessoas fotografadas. Gente anônima na rua e próceres em palácios, povos originários, quilombolas, pastorinhas e congadeiros, entre tantos outros atores sociais. É toda uma sociedade que se deixa ver no vasto painel que é um Brasil desconhecido, que precisa ser visto.

Milton Guran, Rio de Janeiro, 2023

História

Esse rico acervo nasceu quando Kim-Ir-Sen, fotógrafo e cineasta há 50 anos, conheceu a região amazônica em 1978. Na época, era repórter-fotográfico da Folha de S. Paulo, e não resistiu ao convite para integrar a equipe do arquiteto Paulo Magalhães, contratado pelo governo do então Território Federal de Rondônia, para desenvolver um projeto de habitação de baixo custo para ser incorporado ao sistema oficial. A viagem que deveria durar 45 dias se estendeu por seis meses. Nesse período o fotógrafo captou ininterruptamente as imagens mais importantes de seu acervo, trabalhando todos os dias, em todos os locais possíveis e imagináveis.

A ocupação da região era intensa. Atraídas pela doação de terras pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), famílias inteiras chegavam todos os dias vindas do sul do país, principalmente do Norte do Paraná. Uma das fotos da exposição é que mostra parte de quinhentos caminhões atolados na rodovia BR-364, a mais importante via de acesso à nova fronteira agrícola. 

Pela mesma rodovia, diariamente chegavam caminhões com até 15 famílias em cada um, e saíam carregamentos de madeira bruta, entre elas, castanheiras e mogno, apesar da proibição de comercialização já naquela época.  

Recém-contatados pela Funai, os índios Suruís Paiter e Cinta-larga, começavam a perder o seu espaço, e alguns se tornavam agricultores empobrecidos em seu próprio habitat, com imensas dificuldades de preservar suas raízes culturais. 

O General João Batista Figueiredo assumiu a presidência da República em 1979 e, para o cargo de governador nomeou o Coronel Jorge Teixeira de Oliveira que, desde a posse deixava clara a sua missão de dotar o Território de condições para ser elevado à categoria de Estado. Isso ocorreu pela Lei nº 41, de 22 de dezembro de 1981.

 Para criação do Estado de Rondônia, então ainda um Território, muitas coisas precisavam ser implementadas, e para isso foi criado em 1979 uma força tarefa com uma gabaritada equipe multidisciplinar concebidos pela equipe da Proconstec, o arquiteto da USP Sylvio Sawaia, do autor dos mapas, Vincenzo Raffaele Bochichio, com a consultoria do geógrafo Milton Santos, todos, celebridades quase anônimas da história rondoniense. Foram criados os núcleos urbanos de apoio rural criados. e mais uma vez Kim-Ir-Sen estava entre eles. Como os trabalhos se estenderam pelo período chuvoso, e as estradas eram péssimas, foi necessário locar um pequeno avião, retirar suas portas e realizar 355 horas de voos fotografando os possíveis locais para criar os NUAR – Núcleos Urbanos Rurais, que se tornariam as cidades necessárias para que o território se tornasse Estado. Esse acervo, são uma fonte inestimável para a pesquisa geoespacial, de meio ambiente, etc. E assim foi feito, tendo com base essas imagens, foram criadas 27 novos municípios. Hoje alguns têm mais de 40 mil habitantes, como Machadinho do Oeste.

Eu usava um capuz de motoqueiro para segurar o vento no cabelo, e um óculos de mergulho, para segurar o vento nos olhos. Amarrado a uma corda, para alguma emergência. E foram várias, inclusive a aterrizagem de barriga no aeroporto de Porto Velho. Por que o trem de pouso não funcionou.

Esse acervo é uma fonte inestimável para a pesquisa geoespacial, de meio ambiente, etc. Além das fotos que foram usadas no projeto, algumas são inéditas, até mesmo para seu autor.

Em função dessas ações, a década de 1980 encontra a região carente de novos programas de investimento, em função de demandas não atendidas de infraestrutura urbana, serviços sociais, sobretudo, de oportunidades de acesso à terra e ao emprego. 

A ligação rodoviária Cuiabá-Porto Velho, principal via de abastecimento e escoamento da produção regional continua apresentado condição de tráfego extremamente precária. A infraestrutura de apoio à produção é deficiente. A tensão social cresce. 

Em decorrência dessa situação, surge o Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil (Polonoroeste), pelo Decreto nº 86.029, com o objetivo de absorver o fluxo migratório de maneira coordenada e sustentável. E principalmente concluir o asfaltamento da BR-364, cujo maior financiador era o Banco Mundial. 

Naquele período, Kim-Ir-Sen trabalhava como fotógrafo no Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) e voltou ao novo estado financiado pelo Banco para documentar essas ações. E assim melhorou seu acervo documentando o asfalto chegando. 

No ano de 1985, foi convidado juntamente com um grupo de amigos para documentar audiovisualmente, um dos mais importantes eventos da etnologia – O funeral dos Povos Originários Bororo. Desse trabalho resultou um disco LP, produzido em conjunto com a UFMT.

Posteriormente o UNB, construiu um museu virtual com esse material, neste endereço: 

http://bororo.museuvirtual.unb.br/index.php/pt/galeria

Em 1986, Kim foi contratado para ilustrar o Relatório de Impacto  Ambiental para a usina hidrelétrica Tabajara. A proposta era aproveitar a pequena cachoeira denominada Dois de Novembro, no rio Ji-Paraná, mais conhecida pela população local por rio Machado. Essa usina geraria 400 megawatts de energia. 

O trabalho consistia em relatar problemas e soluções de uma grande área que seria inundada futuramente pela hidrelétrica. Nessa área moram desde tempos imemoriais índios das etnias Paiter Suruí, Cinta Larga, Zoró, Arara e Gavião pertencentes ao mesmo tronco Tupi Mondé. Fez sobrevoos de reconhecimento com fotografias aéreas, e posteriormente o levantamento em campo. 

Kim aceitou, principalmente, porque desejava ver como estavam as cidades criadas sobre as suas fotografias de 1979. Conseguiu enriquecer o acervo, pois verificou que algumas cidades eram de pequeno e médio porte. Mas alguns desses municípios já ultrapassam os 40 mil habitantes como no caso de Machadinho d’Oeste. 

No final deste mesmo ano, se “internaram” no Hospital Adauto Botelho, e com Luiz Eduardo Jorge e Waldir de Pina, e realizaram o icônico e premiado  documentário Passageiros da Segunda Classe. Este filme recebeu nove importantes prêmios, nos melhores festivais.  

Prêmio

Prêmio Melhor filme III FICA – Festival Internacional de Cinema Ambiental, Cidade de Goiás, GO, 2001. Passageiros da Segunda Classe.

Em 1987, foi contratado pelo consórcio de engenheiros Brasconsult, para fundamentar visualmente o RIMA de três grande hidroeléticas na região do Rio Xingu, que acabou, posteriormente, se tornado a polêmica UHE – Belo Monte.
Posteriormente, visitou o estado em várias oportunidades, seja participando de feiras de ciência (1983), na elaboração de matérias jornalísticas para revistas, ou participando de festivais de cinema (2004). Fez isso, muitas vezes com financiamento próprio, sempre disposto a atualizar seu documentário visual sobre Rondônia e consequentimente da Amazônia.

 

Assista o "Passageiros da Segunda Classe" no Youtube

Fotos

Povos Originários do Brasil

Os problemas e as violações de direitos enfrentados pelos povos indígenas brasileiros são decorrentes de um passado de negação da necessidade de proteção aos povos tradicionais. Somente na Constituição de 1988 é que se passou a considerar a pluralidade étnica como um direito. E somente a partir de 1991 é que a população indígena foi incluída no censo do IBGE. No último censo, de 2010, foram registrados 817.963 mil indígenas, cerca de 1,6% da população Brasileira, 305 diferentes etnias e 274 línguas.

Tive a oportunidade de registrar alguns momentos desses povos.  E, tenho um imenso prazer em poder compartilhar esses momento únicos com todos.

 

Mãe e filha Cinta-larga, na primeira fase de contato desse povo, no entorno do Posto Indígena do Roosevelt em 1978. Quatro décadas depois, jazidas de diamantes atraíram garimpeiros e empresários, na contramão do Congresso Nacional, Governo Federal e Justiça, que nada decidiram a respeito da possível exploração dessas pedras.

A moça Paíter Suruí fia um novelo de algodão no Posto Indígena Sete de Setembro, circunscrito ao Parque Indígena do Aripuanã, em 1978.

Menino Suruí agarrado ao braço do pai, no Posto Indígena 7 de Setembro, em 1982.

Paíter-Suruís amanhecem sorrindo por algum motivo no Posto Indígena 7 de Setembro, em 1978.

Cacoal, 1978: em pureza, menina Painter Suruí e fotografada no Posto Indígena sete de Setembro.

1978 – A pureza da explícita nudez era uma das situações mais comuns entre as mamães grávidas Suruís. Ambas com dois filhos pequenos, sendo um ainda de colo.

De  manhã, a índia Suruí volta do banho toda nua, com a cuia na mão. Em 1978, no interior de uma das aldeias desse povo.

1978  –  Armado de uma garrucha, esse guerreiro Suruí fez parte da história de resistência contra invasores da Linha 7, em Cacoal. Em 1978, no interior de uma das aldeias desse povo.

 

Contrate

Serviço de fotografia para experimentar a beleza da natureza